quinta-feira, 30 de junho de 2011

Caminho de Volta - O Igual que não o É

 A Medicina não tem medo. Não teme mostrar-nos que nada sabemos. Tantas vezes criamos falsas expectativas, falsa confiança, que não nos disponibilizamos a por-nos em causa, para podermos aprender. Como é que, na inconsciência, podemos assumir que já sabemos as respostas, se nem humildade temos para prestar atenção às perguntas?
 O seu amor sente-se na purga. Nas minhas memórias, lembro o que foi. Já o passei uma vez, sei reconhecer como trabalha, o que provoca, como o sinto. Tudo é igual mas nada é igual. Sinto o Eco mas não o aceito. Enjoo mas não purgo. Purgo mas não alivia. Alivia mas não sinto prazer.
 Aqui e agora, algo na planta me assusta. Estamos diferentes, não sei como me comportar perante tal verdade. O Caminho do Propósito leva à Verdade que Cura. Tento fugir ao Eterno, mas este tudo vê, tudo sabe. Desta vez não sei se quero estar cá ou se quero que acabe. Mas não quero estar consciente, porque tenho medo de a planta não o ter.

terça-feira, 28 de junho de 2011

O Acordar do Eco

Acorda a memória,
As memórias das células,
As memórias do Ver.
Estremeço,
Com toda a força do meu Ser.
Descompassados espasmos,
Giro, rodopio sobre mim mesmo,
Resisto para me manter
Para me desencontrar.

Sei como és,
Como funcionas.
Em mim operas pelo Eco.
Ânfora selada
Lampejos de Liberdade,
Resolução do Espírito.
Brilhantes, as tuas trevas,
Que sobre mim se abatem.
Ferido, recolho-me,
Esbracejante, procuro gritar,
Procuro respirar,
Não perder a noção
A consciência da inconsciência.

Nada sai.
Nem grito
Nem suspiro
Nem prazer.
Contínua dormência,
Lancinante, latejante.

Arrasto-me de volta,
Ao berço, à lama,
Lama que envolve,
Que endurece, obstrui,
Parede imensa, sem fim.

De novo,
Quem não provou
Venha provar.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Caminho de Volta - Um Novo Propósito

 Já vários mensageiros me tinham entregue a mensagem, a que ditaria o novo Propósito, a que ditaria a nova Cura. Algo que estaria pronto para ser resolvido, para ser tratado, para ser sanado. Essa mensagem continha apenas uma palavra: Mãe. Como curarei algo que tenho um imenso medo de encarar, que não me sinto minimamente apto a enfrentar? Porque é que, neste ponto, não posso escolher a névoa? Tudo em mim sabia a resposta, só não a estava a querer ver.
 "Esta Medicina é um pouco mais forte, um pouco mais concentrada, mas é na mesma muito suave", me disse o Professor, "vai ser um trabalho mais profundo, mais consciente". Escolhido o centro do poder, tomamos Medicina. Logo vem a pergunta: "Qual o propósito?". Tento escapulir-me, focar-me mais na necessidade de não perder por completo a noção do meu corpo.
 A planta sabe como cuidar, como testar. Na sua sabedoria conhece-me, e se transforma para me transformar. No momento, só me pede para estar lá.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Um Novo Céu

De volta à barca
Sensação familiar,
Os cheiros, os sons.
Reconheces-me?
Estou tão diferente
Desde o último encontro,
Quase não me reconheço a mim próprio.

Sei que será diferente.
Já o fora deu lugar ao dentro,
O mar deu lugar ao céu.
Também estás diferente,
Falas estranho,
Sabes estranho,
Estranhamente amarga,
Estranhamente doce.

Envolves-me e revolves-me,
Puxas por mim,
Acordas-me.
Sei ao que vim.
De certeza que sabes?
Então deixa-te ir.
De novo embriagado,
De novo mareado,
De novo assustado.
Estás diferente Mãe.
Estás diferente filho.

Não te vejo nos dejectos,
Vejo-te e sinto-te em mim.
Quem és tu?
Onde está a mãe?
Reconheces-me?
Estou diferente desde que me sentiste.
Tenho obrado em ti
E o teu esforço será recompensado,
Pelo Grande Ser, que tudo vê,
Pelo Eterno, que tudo sabe.

Agora dorme.
Já chamo por ti.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Caminho de Volta - Lembrar de Existir fora d'Ela (II)

Janeiro - Fevereiro de 2011

 Escrevi e escrevi e escrevi. Página atrás de página, toma após toma. Talvez um dia aqui escreva a história da vez primeira, mas "não é esta a hora" - me disse um dia uma voz tão familiar - "tenho uma outra missão para ti. Escreves sim, mas sou eu quem to dito. Aceitas falar o que para ti falo?" - claro que sim, Madre. É uma honra receber tal bênção. - "Assim, quando tomares Medicina, existo em ti, e quando regressares existes em mim. E juntos criaremos".

 E escrevi e escrevi e escrevi, página após página, sem saber onde me levaria. Por vezes surgiam-me pequenas partes e eu sentia a impaciência de querer começar ou acabar uma mensagem. E logo ela me dizia para ter calma e confiar, que tudo iria sair e que no final iria finalmente compreender e integrar os ensinamentos.

 É incrível como ela opera, como nos toca, como nos marca. É incrível como modificou de um dia para o outro a minha estrutura de ADN, como passados mais de 3 meses, me continua a ensinar, a curar. De facto, não custa existir fora d'Ela, porque Ela está sempre comigo, no meu sangue, na minha alma. Em mim e no que me rodeia. E quando nos volta a convocar, é das maiores dádivas que nos é concedida. Porque merecemos.

Março de 2011

 Ela voltou. É hora de tomar Medicina. É hora da 2ª Cerimónia da sagrada planta.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Caminho de Volta - Lembrar de Existir fora d'Ela

Dezembro de 2010

 Acordar de um sonho ou acordar para um outro sonho? O que é real e o que deixou de o ser? Nada me parece bem real porque tudo parece demasiado real, porque há novas cores, cores que não conhecia, que para mim simplesmente não existiam. Nada existia porque havia a névoa. E a névoa, sorrateira, tudo ia cobrindo, ofuscando, limitando. E era normal, até deixar de o ser.

 Alguns dias passaram desde a cerimónia e ainda as visões, as sensações e as mensagens me acompanhavam, às vezes violentas, às vezes doces, mas sempre exactamente aquilo que eu precisava, na altura em que o precisava. E estava ansioso, desejoso pela próxima. Lembro quando acordei na gruta, ainda de noite, me virei para a minha esposa e, com um sorriso rasgado nos lábios e nos olhos, lhe disse: "Comprometo-me, perante ti e perante o Universo. Quero e vou fazer as sete cerimónias deste ciclo".

 Quando conto a minha experiência, tantas vezes ouço "Não sei como consegues contar o que se passou com um sorriso nos lábios! Se fosse eu, nunca mais me apanhavam a tomar Medicina! E tu aí, cheio de força de vida e de alegria, cheio de certezas, e queres voltar". Resolvi escrever a minha experiência.