terça-feira, 31 de maio de 2011

Caminho de Volta - Aceitar a Disjunção

 Somos levados e decompostos, fragmentados, desconstruídos. Bebemos e voltamos a beber, tomamos Medicina em reverência, por Ela, por Nós. Vamos fora, e longe, e vemos o Infinito. Vamos dentro, e fundo, e vemos o Infinito. Tudo está presente no Infinito, e o Infinito só existe no Presente, no instante.

 No Infinito somos Nós, somos centelha, somos escuridão, escolha, intenção. No Infinito nos olhamos e nos descobrimos. Nos amamos e, por isso, tudo amamos. E é nesse amor que percebemos que a Cura não é um fim, é um despertar, um renascer. Só na Disjunção pode existir o religamento, a percepção do Propósito.

 Nas sábias palavras da planta "Primeiro Limpas, depois Aceitas, depois Aprendes". Primeiro a Cura, depois a Disjunção, depois o Propósito. E é esse Propósito que gera novamente a Cura, e a Disjunção, e um novo Propósito. É essa a nossa proposta como seres que vivem, viver o ciclo até morrermos em vida e renascermos num novo ciclo.

 Eternamente grato pela cura, pela disjunção e pelo propósito. Para sempre parte de mim, para sempre parte de Ti. Obrigado Pacha Mama

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Aceitação - Disjunção

A Exaltação do Ser,
Bacantes abraços
Que não terminam.
Prazer quíntuplo. Fusão.
Empedrenido altar,
Empedrenidos corpos,
Seres Presentes
Sem lugar marcado no Futuro.
Fulgor vítreo,
Memória de Água,
Plenos, entumescidos,
Andrógenos, hermafroditas,
Amando-se, abençoando-se.

A Aceitação do Ser,
Brusco, opaco,
Irreal, sublime.
Bacantes beijos
Que não terminam.
Amor, num corpo de Amor,
Num corpo de Desejo,
Amante, luxurioso,
Sem Ego, encontrado.
Onde termina o Prazer,
É onde começa o Julgamento?

Corpos despidos de crítica,
Vestidos de Eu, de Céu,
O Tudo nada julga,
Tudo Sente, Abraça,
Beija, Penetra.
Onde termina o Silêncio
E onde começa a Paz?

A Aniquilação do Ser,
Dádiva sublime.
Bacante sexo
Que não termina.
Orgia de Corpo, de Consciência,
Penetração da Carne,
Limpa, Linda, Perfeita,
No limiar da Loucura,
No Aqui e no Agora.
Carne suada, húmida,
Desprovida de Vazio,
Reconstruída à Tua imagem,
Onde sou Eu?
Onde começo e onde termino?
Se tu És em mim,
Onde sou Eu?
Se me penetro,
Onde sou Eu?
Se me como e te vomito,
Onde sou Eu?

Sou o Cosmos e Existo em Mim,
Sou o pó de estrelas, sou átomo e Vontade,
Sou Mar, sou Pedra, sou Fogo,
Sou Tambor, sou Canto, sou Videira,
Sou Barca, sou Tela, sou Espelho,
Sou Taça, sou Semente, sou Raíz,
Sou Caminho, sou Purga, sou Mudança,
Sou Demónio, sou Prazer, sou Bênção,
Sou Céu, sou Templo, sou Casa,
Dou Amor, Vivo Amor, Sou Amor.

Eu aceito, Mãe.
Metade de Mim és Tu,
A outra metade também.

E agora, Mãe?
Agora podes aprender.
Para onde me levas?
É surpresa.
Que bom, adoro surpresas!

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Caminho de Volta - A Onda que Vem e nos Leva

 Família. A cada cerimónia se forma uma nova família, uma tribo. A planta é Mãe, Pai, Avós e Ancestrais. Todos os que tomamos Medicina somos seus filhos, seus protegidos, seus semelhantes, seus irmãos. Somos irmãos uns dos outros e juntos sentimos a Onda, que nos leva e nos traz. E todos a partilhamos, quando ela nos escolhe. E todos fazemos parte de uma corrente, uma corrente de almas chamadas pela Medicina para ter a dádiva da limpeza, da cura, da aprendizagem.

 E vem a Onda. Mareados, todos somos levados para o Vazio e todos somos trazidos de volta a um novo Eu. Nesta barca, todos somos o nosso porto seguro e todos somos a âncora da família. Todos somos Medicina. E vem novamente a Onda, e todos somos de novo tentados, a ir mais fundo, a limpar mais, por si. Tanto se ama, quem o faz. Tanto mais ama quem o faz por si e pelos outros, escolhido para encarnar o portal de Cura, por onde todos os males se vão. É isso o Amar, o seu Amar. É isso que nos devolve a Vida.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Aceitação - Conjunção

Convosco deitado, no colo nodoso
Das imponentes raízes entrelaçadas
Do grande Tronco, da Grande Árvore,
Que antes foi Altar e antes disso Deusa,
Loucura e antes disso Música,
Fogueira e antes disso um Sorriso,
Que foi Toro e Suor
E antes de tudo foi Intento.

Prostrados, sem forma definida
Aguardando algo que nos puxe
Do espaço sem espaço,
Da dimensão onde não se existe,
De volta ao Aqui e Agora
Ao presente senciente da sensibilidade.

Um vulto se move, se levanta,
Uma capa ondula,
Uma Pele é recheada com um Ser,
Um cantante Vento de Mudança,
Um de Nós que é um Deles.
A sua Dádiva é Fogo, é um Fole,
Que nos enche de um néctar
Que são tecidos, ossos e fluidos,
Que nos devolve o Ser e o não-Ser.
A sua Dádiva é Água, é uma Cascata,
Que se abate sobre o nosso recém-nascido Eu,
E nos lembra o que é Nosso e o que não é,
Que nos desconstrói e reorganiza,
Abrindo caminho à tão desejada Purga.

Todos nós cantamos
Sorrimos, vomitamos e sorrimos.
Expulsamos os Demónios verdes,
Brincamos e cantamos com eles.
Nunca nossos foram mas sempre connosco estiveram,
Agora são puré e polvo e bofes,
E alegremente voltamos a come-los
E alegremente voltamos a vomita-los.

E o Cantante ama-nos,
O Cantante abençoa-nos, cuida de nós.
E um de nós recebe o presente maior,
E um de nós vai ao fundo,
Ao fundo de Todos, ao fundo por Todos.

Largando a sua máscara,
Alienando a identidade,
O Eu que é Eu são Muitos.
E o Todos ajoelha-se,
E o Todos sente o ímpeto,
As dolorosas súplicas de descarga,
E o Todos grita,
E a sua cara se desfaz.
Uma poça de carne se forma,
Uma poça que para ele olha,
Velha carne contemplando os ossos,
Pedindo mais e mais polpa.

Agarrado às entranhas
O Todos geme
E todos gememos com ele,
O Todos grita,
E todos cantamos,
Todos amamos Todos
E o Todos desiste da luta.
A sua ossada se quebra
E da sua boca aberta
Caem Demónios,
Jorram golfadas de cor,
Paleta indistinguível
Salpicada de negro,
Insectos se espremendo,
Serpenteando, rebentando.

Saiam, que não sou Eu!
Saiam, que não são Nós!
Todos somos Tudo e Tu és Tudo em Nós.
Da minha insignificância te saúdo, Mundo,
Pois Somos Livres.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Caminho de Volta - 6º Estágio do Ego: A Loucura

 Sanidade. Loucura. Por instantes, nenhuma destas palavras faz sentido. Por instantes, nenhuma palavra faz sentido. Sentido... Fazer sentido... O Fazer do Sentir, o Fazer a Sentir e o Fazer pelo Sentir. E, por instantes, o fazer do sentir é tudo o que existe. Nada mais importa. Nada importa. É o Sentir e não Pensar, o Sentir com todos os sentidos, com todo o Ser.

 Por instantes, o Ser não é mais que o Sentir, apenas o Sentir define o Ser. E nada mais importa. Nada importa. Estar cá, estar realmente no aqui e no agora, é esse o nosso momento de Loucura e de Libertação. E de Paz.

 Na Loucura tudo são Momentos. E em cada momento tudo é Novo. Tudo é Lindo e Horrível, tudo é Desconhecido e Maravilhoso. Na Insanidade todos somos Iguais, todos estamos nus. Todos nos descobrimos, nos tocamos, nos vemos, nos ouvimos, cheiramos e provamos. Todos somos perfeitos espelhos de Deus.

 No Aqui e no Agora, todos somos Loucos. Todos somos Livres. Todos somos Perfeitos.

 Todos somos Medicina.

A Sanidade da Loucura

O que é isto?
É um olho
É um braço
É um espelho
Porquê?

É pele
É sangue
É casca
É uma árvore
Porquê?

É ventre
É um salto
É dor
É um beijo
É um grito
É um abraço
É quente
É uma lágrima
Porquê?

É igual
É indiferente
É puro
É um verbo
Porquê?
É um nome
Porquê?
É uma ideia
Porquê?
É um ideal
Porquê?
É uma pergunta
É um conceito
É um caminho
É um fim
É percepção.

É Sanidade da Loucura

sábado, 14 de maio de 2011

Caminho de Volta - Caminho da Verdade

 É fácil nos perdermos nas ilusões, nas visões, na desesperada tentativa do nosso Ego de lhes dar forma, de as inserir num contexto perceptível, intelectualizável. Um Ego que tem muito medo de se perder no escuro, no desconhecido. Tanto medo tem que prefere viver a mentira que morrer para a Verdade. Curioso porque, na realidade, nem o Ego vive nem aprende a verdade. E que Verdade há sem ser a do Amor?

 Tudo na Natureza é Amor, na sua forma mais pura. E tudo numa criança é puro, é uma brilhante percepção de um maravilhoso mundo. Quando deixei de olhar as flores com Amor, enquanto crescia? Como me desliguei de andar descalço, de andar nu, de sentir? Como parei de olhar nos olhos do Sol e sorrir, por seu brilho ser tão forte?

 E a Medicina nos devolve o sorrir.
 E a Medicina nos mostra que o Caminho de Volta é ver.
 E a Medicina nos relembra que tudo é belo e natural, que o Universo é imenso e extraordinário, e que todos nós somos Divinos.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Concepção

Cadela,
Grande Mãe Parideira
É teu o aborto que esperneia.
Estrebuchante, azul vibrante
Bolbo cego, alma nua.
Tu ama-lo?
Está morto, mas vive na sua não-Vida,
E seus sonhos, os que Tu rejeitaste,
São tudo que lhe resta.
Sozinho, fraco, imutável,
Tu amas-me?

Lembro e reconheço meus irmãos,
Ainda ovos a chocar no teu ventre,
Ainda quente, ainda são.
Gigantes pulsantes,
Descrentes, caminhantes.
Teus urros de Prazer são Dor
Espremendo-os para fora de Ti,
Para uma cama vomitada de Amor,
Para as Estrelas,
Para a Tela desmemoriada
Sós, desconfortáveis, lindos.
Um manto de Universo os envolve,
Tecido constelar, primal
Há gerações passado,
ADN espiralado
Envolto e revolto no Tempo.

Grande Mãe Parideira,
Obscena e abundante
Sol cheio de Lua,
Estás só, como eu?
Estás só, como eu.
Não amarga, não carente,
Não cansada, não doente,
És Luz, resplandescente.
És Céu, és Templo, és Casa.
Dás Amor, vives Amor, és Amor.

És Eu e somos Água
És Eu e somos Pele
És Eu e somos Lume
És Eu e somos muitos
És Eu e somos Um
És Eu e somos Eu.

Mãe, posso nascer?

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Caminho de Volta - Desintoxicação

  Poucos de nós têm a exacta percepção de quão intoxicados estamos. Todos temos toda uma vida por trás de nós, uma vida de sugestões, ordens, prisões, barreiras, condicionamentos. Toda uma vida de falsas doenças, de falsas memórias, de falsos momentos, que levam a uma falsa percepção da nossa própria Personalidade. Tanto do que sabemos não é verdade, não é a nossa Verdade, mas sim algo que nos foi contado, ou nos foi explicado como devíamos sentir ou lembrar. E tanto do que é realmente nosso se perdeu no Caminho.

  E as visões da Medicina Amazónica nos trazem tudo isso: cenas que não são nossas com memórias há muito esquecidas, e um mareamento que não é mais que um processo do Ego, um processo de choque com o "nosso" lado que não é nosso, e uma enorme resistência em deixar ir, em aceitar a morte em vida.

  Muito grato pelas bênçãos da Medicina.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Nova Pele, Vera Pele

Mãe, para onde me levas?
Para onde precisas que te leve?
Não sei, Mãe.
Sabes que te posso mostrar Tudo?
Sim, Mãe.
Sabes que não te negarei a Verdade.
Sim, Mãe.
Onde queres que te leve?
Que queres que te mostre?
Quero aprender,
Leva-me ao fundo,
Mostra-me a Verdade.
Primeiro Limpas
Depois Aceitas
Depois Aprendes.

Que bela música, o que é?
Estás Feliz!
Então porque tenho Medo?
Porque não sabes ser.
Então quem sou Eu?
Sim, quem és Tu?
Não sei, Mãe.
Tu és um reflexo de Ti mesmo,
E um Espelho do Mundo.
Mas se eu sou Eu, quem Sou?
Primeiro Limpas
Depois Aceitas
Depois És.

A Taça traz Vida, Mãe?
A Taça devolve-te a Vida.
Não me quero deitar fora,
Não vou soltar o que é Meu!
Porquê?
Porque sem mim não sou Eu,
Sem me ter, não sei quem sou.
Tu és um reflexo de Ti mesmo
(Liberta-te)
Tu és um Espelho do Mundo
(Deita tudo cá para fora)
És o Infinito a vomitar o Nada
(Vomita-te)
Tens em ti a Semente da tua própria Podridão
(Vomita-a)
Luta por ti, recebe este Amor
(Cura, cura, santa cura).

Som, que de tão forte, tudo o resto cala
(Cura, limpa, sana, vomita)
Entranhas revolvidas em visões de entranhas revolvidas
(Cura, limpa, sana, vomita)
Confusão, queres enganar-me Confusão?
(Cura, cura, cura, cura)
Porque me abraças e me desfazes?
(Limpa, limpa, limpa, limpa)
Ama-me e odeia-me, monstro no Espelho
(Sana, sana, sana, sana)
Não me abandones, Mãe!
(Eu amo-te. Vomita)

Oh, incontrolável refluxo
Doce sabor, prazer infantil.
Golfada de pó e de lama,
Escombros de toda uma existência.
Purga natural e sagrada do não-Eu
O adeus às armas,
O adeus ao corpo,
O adeus ao Ego.

E agora, Mãe?
Metade de ti está limpa,
A outra metade sou eu.
É hora de Aceitar.