quarta-feira, 18 de maio de 2011

Aceitação - Conjunção

Convosco deitado, no colo nodoso
Das imponentes raízes entrelaçadas
Do grande Tronco, da Grande Árvore,
Que antes foi Altar e antes disso Deusa,
Loucura e antes disso Música,
Fogueira e antes disso um Sorriso,
Que foi Toro e Suor
E antes de tudo foi Intento.

Prostrados, sem forma definida
Aguardando algo que nos puxe
Do espaço sem espaço,
Da dimensão onde não se existe,
De volta ao Aqui e Agora
Ao presente senciente da sensibilidade.

Um vulto se move, se levanta,
Uma capa ondula,
Uma Pele é recheada com um Ser,
Um cantante Vento de Mudança,
Um de Nós que é um Deles.
A sua Dádiva é Fogo, é um Fole,
Que nos enche de um néctar
Que são tecidos, ossos e fluidos,
Que nos devolve o Ser e o não-Ser.
A sua Dádiva é Água, é uma Cascata,
Que se abate sobre o nosso recém-nascido Eu,
E nos lembra o que é Nosso e o que não é,
Que nos desconstrói e reorganiza,
Abrindo caminho à tão desejada Purga.

Todos nós cantamos
Sorrimos, vomitamos e sorrimos.
Expulsamos os Demónios verdes,
Brincamos e cantamos com eles.
Nunca nossos foram mas sempre connosco estiveram,
Agora são puré e polvo e bofes,
E alegremente voltamos a come-los
E alegremente voltamos a vomita-los.

E o Cantante ama-nos,
O Cantante abençoa-nos, cuida de nós.
E um de nós recebe o presente maior,
E um de nós vai ao fundo,
Ao fundo de Todos, ao fundo por Todos.

Largando a sua máscara,
Alienando a identidade,
O Eu que é Eu são Muitos.
E o Todos ajoelha-se,
E o Todos sente o ímpeto,
As dolorosas súplicas de descarga,
E o Todos grita,
E a sua cara se desfaz.
Uma poça de carne se forma,
Uma poça que para ele olha,
Velha carne contemplando os ossos,
Pedindo mais e mais polpa.

Agarrado às entranhas
O Todos geme
E todos gememos com ele,
O Todos grita,
E todos cantamos,
Todos amamos Todos
E o Todos desiste da luta.
A sua ossada se quebra
E da sua boca aberta
Caem Demónios,
Jorram golfadas de cor,
Paleta indistinguível
Salpicada de negro,
Insectos se espremendo,
Serpenteando, rebentando.

Saiam, que não sou Eu!
Saiam, que não são Nós!
Todos somos Tudo e Tu és Tudo em Nós.
Da minha insignificância te saúdo, Mundo,
Pois Somos Livres.

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