terça-feira, 10 de maio de 2011

Concepção

Cadela,
Grande Mãe Parideira
É teu o aborto que esperneia.
Estrebuchante, azul vibrante
Bolbo cego, alma nua.
Tu ama-lo?
Está morto, mas vive na sua não-Vida,
E seus sonhos, os que Tu rejeitaste,
São tudo que lhe resta.
Sozinho, fraco, imutável,
Tu amas-me?

Lembro e reconheço meus irmãos,
Ainda ovos a chocar no teu ventre,
Ainda quente, ainda são.
Gigantes pulsantes,
Descrentes, caminhantes.
Teus urros de Prazer são Dor
Espremendo-os para fora de Ti,
Para uma cama vomitada de Amor,
Para as Estrelas,
Para a Tela desmemoriada
Sós, desconfortáveis, lindos.
Um manto de Universo os envolve,
Tecido constelar, primal
Há gerações passado,
ADN espiralado
Envolto e revolto no Tempo.

Grande Mãe Parideira,
Obscena e abundante
Sol cheio de Lua,
Estás só, como eu?
Estás só, como eu.
Não amarga, não carente,
Não cansada, não doente,
És Luz, resplandescente.
És Céu, és Templo, és Casa.
Dás Amor, vives Amor, és Amor.

És Eu e somos Água
És Eu e somos Pele
És Eu e somos Lume
És Eu e somos muitos
És Eu e somos Um
És Eu e somos Eu.

Mãe, posso nascer?

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