sábado, 2 de julho de 2011

In mortal - Consciência

Sei que me matarás.
Tenho de morrer e não quero!
Sei que vou morrer e não quero!
Partes-me as pernas e os braços,
Esventras-me, dilaceras-me.
Não quero!
Não quero mais!
Mentirosa!

Porque me enganaste
Com a tua doçura,
Com o teu colo?
Como te posso amar tanto,
Se me odeias a ponto de me matar?
Se me amas como dizes que amas,
Deixa-me ir embora.
Não.
Deixa-me ir embora!
Por favor...
Juro que nunca mais volto...
Como podes jurar-me isso,
Se nem sabes com quem falas?
Observa melhor.

O Vazio goteja
Numa grande bacia,
Numa familiar bacia.
Límpida água que depressa ferve,
Ebulição de água,
De ódio que consome.
Quem possui a máscara
De onde todas as lágrimas escorrem?

Verdes são as tuas lágrimas,
Como as minhas,
Verdes como a água
Que agora é lodo,
Espesso, pustulento.
Pequenos ovos eclodem
E de súbito eles surgem,
Negros vermes flutuando no visco.
Quem os chorou?
De que ódio são filhos?

Uma lancinante dor me assola,
Quando comigo falas.
Isto não é teu.
Se não é meu, de onde vêm as lágrimas?
São tuas?
São tuas, mãe?
Responde-me!

Algumas são minhas,
Algumas sempre aqui estiveram,
E em breve tudo isto será teu.
Agora come e cala-te!
Não percebo. Porquê?
Come e cala-te!
Não quero!
Come e cala-te!
Porque me pedes isto? Porquê, Mãe?

Não te estou a pedir.
Os meus desejos são ordens!
Eu sou tua mãe e tens de fazer o que eu te digo!
E ao comer do meu vómito
És igual a mim.
Eu sou a Cadela e tu tens que me obedecer!
Come e cala-te!
Não!

Olha para mim.
Obedeço.
E, ao tirar a sua máscara,
Os seus vermes escorrem,
Buraco negro de ódio,
Sem amor, sem humanidade,
Que se apressa a comer-se,
A sorver-se, a banquetear-se.
Porque sem o Visco
Não é mais que Nada.

Vomito

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